Encruzilhadas da produção e do afeto
Uma década de Peneira, uma década de trajetória na produção cultural, minha história está totalmente entrelaçada com a história da Peneira, e são essas memórias que vou resgatar no texto de hoje em comemoração a esses dez anos.
Minha história com a produção cultural começa na universidade, na real, arrisco dizer na escola, sempre gostei de estar envolvida na produção das festas juninas, da formatura do ensino médio, das festas em geral. Sou formada em Licenciatura em História, mas minha experiência em sala de aula não foi muito empolgante, e resolvi buscar outros caminhos. As artes sempre me picaram, na real queria ser atriz, mas foi nos bastidores que me encontrei. Em 2010, a Peneira nascia na cidade, em 2010, eu começava minha pós em Gestão e Produção Cultural, muita teoria e pouca prática. Comecei numa produtora de teatro, e produzindo a Orquestra Superpopular (foi por causa da Orquestra que o meu caminho e a da Peneira se cruzaram). Dani Ribeiro, diretora de artes da Orquestra foi a responsável por fazer a ponte com Luiz e Alex. Nosso primeiro encontro foi num ensaio na Escola de Teatro Martins Pena, ali eu me apaixonei e iniciou uma belíssima parceria de trabalho, de amizade e de vida.
Nesses dez anos eu já estive mais próxima e mais longe, mas sempre por perto, fortalecendo os nossos trabalhos. E vai ser um pouquinho dessa troca que vou contar aqui.
A Peneira nasceu como coletivo, e como todo bom coletivo sua formação se dá muito pelo afeto, pela vontade de fazer e acontecer com ou sem grana. E os desafios foram imensos (ainda são). Mas a Peneira sempre buscou inovar, se aperfeiçoar e qualificar na arte dos fazimentos. O que sempre me agradou em trabalhar com a Peneira é que eles não se viam apenas enquanto artistas, mas também enquanto produtores, e isso faz toda diferença.
Vou destacar aqui dois momentos durante o tempo que estive diretamente envolvida na produção da Peneira, que foram a temporada na Casa da Gávea e a participação no Fringe, praticamente um seguido do outro, com o espetáculo “Urucuia Grande Sertão”. Não tínhamos patrocínio nem para temporada e nem para ir ao Fringe. O Fringe faz parte do tradicional Festival de Teatro de Curitiba, era basicamente um festival dentro do festival, e eles ofereciam hospedagem e alimentação, mas a passagem era por conta do grupo. A temporada ocorreu no final de 2012 e o Fringe foi em março de 2013. Naquele tempo começaram a pipocar as campanhas de financiamento coletivo, na época ainda muito conhecida pelo termo em inglês “crowdfunding”, pouco usada pelos grupos periféricos e muito pouco conhecida pelo público, que tinha ainda uma certa desconfiança. Mas como disse lá em cima a Peneira sempre inovou e a gente decidiu levantar a grana por essa nova forma de financiamento e pela bilheteria da temporada para pagar nossas passagens. Entre erros e acertos conseguimos ir, e eu só tenho belíssimas memórias dessa viagem e dessa temporada.
[aeroporto – acervo Taty Maria]
[apresentação – acervo Taty Maria]
Em 2013, também foi o ano que a gente começou a produção do Sarau do Escritório. Produzir na rua, queridos leitores, é um desafio e tanto. Na primeira edição teve briga, na segunda montamos tudo, assim que acabamos a montagem caiu a maior tempestade de todos os tempos, foi um corre pra cá e pra lá, para desmontar tudo, e terminamos a noite ilhados dentro do Bar da Cachaça, rindo muito.
Aliás os momentos de diversão, é outra memória gostosa que preciso destacar. Para além do trabalho, foram muitas noites batendo ponto no Bar da Cachaça, nosso escritório, daí o nome Sarau do Escritório, e o lema “Quem bate cartão também faz poesia”. Foram muitas festas, carnavais. Aff, universo, muito obrigada por cruzar com essa galera. Peneiretes, eu amo vocês, eu tenho um orgulho danado do nosso trabalho. Sigamos inovando e aceitando os desafios impostos pela produção. Por mais dez anos de Peneira e muitas aventuras. Um beijo, da eterna musa, rs. 😘
[primeira reunião do Sarau do Escritório no Aterro do Flamengo – acervo Taty Maria]
[festa Gafieira Elite – acervo Alex Teixeira]
Taty Maria é suburbana, libriana, produtora cultural, integrante da Peneira e da Casa Fluminense.